A prática dos direitos animais: o veganismo
Se você gostou da teoria dos direitos animais, vai adorar a prática: o veganismo. Ser vegano(a) significa respeitar os animais, isto é, buscar não incentivar sua escravidão. Pouco importa se você gosta ou deixa de gostar de animais não-humanos. O mínimo que lhes devemos (assim como aos humanos) não é o nosso amor, mas o nosso respeito.
Veganismo não tem nada a ver com santidade ou pureza, apenas com ética e respeito. E não é apenas a única maneira de levarmos os animais a sério, é também a única maneira de levarmos nossos próprios princípios morais a sério.
O que é?
Veganismo é a aplicação da teoria dos direitos animais à nossa vida. Ou seja, é o modo de vida de quem reconhece que os animais não-humanos possuem o direito moral de não serem considerados propriedade dos humanos. Veganos e veganas podem ser caracterizados pela sua recusa em comprar ou usar produtos oriundos da escravidão, como os produtos de origem animal ou os que foram testados em animais.
Qualquer centavo que destinemos à compra desses produtos é um aval que damos à escravidão, um voto para que ela continue. O mesmo acontece quando usamos esses produtos, pois assim também incentivamos sua compra e produção. É uma declaração do tipo “não estou nem aí, para mim os animais não-humanos me pertencem, mesmo”. Enquanto essa for a declaração da grande maioria das pessoas, a escravidão continuará firme e forte.
Mas nós podemos fazer a diferença. Cada um de nós, pessoas comuns e críticas, pode trazer ao fim pelo menos o seu patrocínio à instituição escravocrata. Por exemplo, veganos(as) são vegetarianos(as), o que significa que em particular não usam produtos alimentícios de origem animal. A recusa em comer um queijo-quente faz sentido não como pesar pela vaca que já foi explorada para a feitura deste sanduíche, mas como não-incentivo à exploração de mais vacas. São esses os animais que estão sendo salvos por cada vegano e cada vegana do mundo: os que não têm de vir a essa triste e indecente existência de servidão aos propósitos humanos.
Veganos(as) também são antivivisseccionistas, já que não há como se justificar eticamente a apropriação de um ser senciente na tentativa de se melhorar a vida de outro ser. Ainda que alguém considerasse que a pesquisa médica com não-humanos fosse uma maneira de salvarmos vidas humanas, ele teria que perceber que a vivissecção é a legitimação e institucionalização da ação imoral do vizinho no exemplo dado aqui. Se é errado instrumentalizarmos humanos, isso é porque eles têm interesse de não serem feitos propriedade – exatamente como qualquer animal.
Se tiver maior interesse nesse tópico, veja a seção pode a ciência ser ética?, onde você pode conferir que na verdade o exemplo do vizinho inclui diversas colheres de chá que costumamos dar aos vivisseccionistas (aqueles que ainda hoje defendem a vivissecção – normalmente estes acabam sendo os próprios vivissectores), que não encontram qualquer paralelo na realidade. Na verdade, a vivissecção está longe de ser responsável por mais vidas do que mortes, está longe de ser responsável pela descoberta de curas, e muitas vezes foca no tratamento de doenças que podem ser prevenidas com hábitos de vida saudáveis. Mas, claro, independentemente dos resultados alcançáveis com a vivissecção, esta é imoral e tem de ser abolida. Toda a humanidade condena as experiências que os nazistas fizeram com judeus no Holocausto, e não precisamos (nem devemos) perguntar quais os resultados de tais experiências para chegarmos a esse julgamento moral. Basta considerar que o direito mais básico dos judeus, o direito de não serem considerados propriedade, estava sendo violado. E a vivissecção de não-humanos consegue ser ainda pior, pelo número de vítimas envolvido (dezenas, talvez centenas de milhões por ano), por ser institucionalizada (legalizada e regulamentada) nos quatro cantos do mundo, e, o mais triste: por ainda ser considerada aceitável nos quatro cantos do mundo.
Cada vegano ou vegana é responsável por um pequeno mas real deslocamento para baixo na demanda por produtos oriundos da escravidão. Caso você não seja vegano(a) e decida se tornar, é claro que o número anual de animais não-humanos usados pelos humanos continuará na casa das centenas de bilhão. Mas você estará efetivamente salvando aqueles animais que não precisarão mais ser escravizados para a produção dos produtos que você anteriormente consumia. Para muitas pessoas, esse número chega a superar a marca de cem animais por ano. Assim, veganas são as pessoas que verdadeiramente libertam animais – não os condenando à escravidão. E para cada um desses animais, fazemos toda a diferença do mundo.
O que precisamos fazer?
Na prática, o que precisamos fazer é verificar quais produtos oriundos da escravidão fazem parte do nosso dia-a-dia, e eliminá-los de nossa cesta de consumo. Seguindo o mapeamento que fizemos em por dentro da escravidão, os principais produtos que merecem nossa atenção são: alimentos produzidos com carnes, laticínios, ovos, mel, gelatina ou corante cochonilha; cães, gatos, peixes e pássaros “de estimação”, ingressos de zoológicos ou espetáculos que fazem uso de animais; roupas ou acessórios feitos com lã, couro, camurça ou seda; e produtos de higiene e de cuidados pessoais testados em animais (veja nossa lista de empresas sádicas (aguarde), que são as que fazem testes em animais mesmo não sendo obrigadas por lei) ou com ingredientes de origem animal.
Nenhum desses produtos pode – nem de longe – ser considerado necessário para o ser humano. Segundo a American Dietetic Association, maior organização de nutricionistas dos Estados Unidos, a dieta vegetariana (a que não apresenta nenhum produto que vem dos animais) “é apropriada para todas as fases do ciclo vital, incluindo gestação, lactação, infância e adolescência”. Você pode ver mais detalhes a respeito na seção uma pitada de nutrição. Seja para fins de alimentação, entretenimento, vestuário, higiene ou cuidados pessoais, estamos comparando o interesse mais básico que um ser pode possuir – o de não ser considerado propriedade – com um interesse nem um pouco fundamental: um gosto específico que gostaríamos de sentir na boca, uma risada por algum motivo específico que gostaríamos de dar, um material específico que gostaríamos de vestir, um perfume específico que gostaríamos de passar etc.
Já os remédios não podem receber de pronto o rótulo de desnecessários. Algumas pessoas precisam até fazer uso regular deles. A saída mais eficaz para essa questão é a prevenção: podemos minimizar nossa dependência de remédios com hábitos alimentares saudáveis (vejauma pitada de nutrição) e a prática regular de exercícios físicos. O que são realmente desnecessários são os testes em animais, pois, como você pode ver na seção pode a ciência ser ética?, as verdadeiras cobaias serão sempre os primeiros humanos que recebem a droga.
É bom sempre ter em mente que não é o passado que podemos mudar, mas sim o futuro. Por mais que gostaríamos que a tortura descrita na seção medicamentos cessasse de imediato, não é deixando de tomar um remédio quando precisamos que vamos fazer com que menos animais venham à existência para nos servir. Quando compramos um queijo-quente, sabemos estar dando um incentivo direto a que mais animais venham à existência para serem explorados para produzirmos queijo. Já quando compramos um medicamento, o incentivo à exploração é muito mais difuso. No máximo, alguém pode argumentar que ao fazermos isso estamos inflando o setor farmacêutico da economia, o que pode fazer mais empresários resolverem entrar nesse setor e produzir novos medicamentos, que necessitarão de mais testes.
Mas mesmo se você quiser levar esse efeito em conta, lembre-se: veganismo não se trata de pureza, mas sim de respeito. Em casos em que não existe um conflito de interesses fundamentais com outros seres sencientes, é nosso dever agir com respeito para com eles. Já quando esse tipo de conflito existe (como no exemplo do vizinho), é absolutamente natural que tendamos a dar prioridade para nós mesmos. Felizmente, esses casos de verdadeiro conflito não são tão comuns assim em nosso cotidiano. O simples boicote aos produtos alimentícios de origem animal já representa o nosso apoio à libertação de cerca de 99% dos escravos de hoje.
Uma pitada de nutrição
Você quer ser vegano(a), mas tem receio de que o vegetarianismo (dieta de quem segue a filosofia de vida vegana) te deixe fraco(a)? Não há o que temer. Tampouco você precisa comprar alimentos exóticos e caros para conseguir se manter saudável e respeitando seus princípios morais. Todos os macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras) e todos os micronutrientes (vitaminas e minerais) – exceção importante feita para a vitamina B12 – podem ser facilmente obtidos pela vegetariana brasileira de qualquer classe sócio-econômica (se ela dispõe do mínimo para conseguir se alimentar). A regra geral é procurar diversificar os alimentos, dando preferência aos mais integrais que aos muito processados, e numa quantidade que te satisfaça. Esse é o básico. Se quiser saber onde encontrar determinados nutrientes, é só seguir a leitura. Só tenha em mente que isto é apenas um guia geral; se você quiser uma orientação personalizada, procure um profissional de saúde atualizado e que não desmereça de pronto sua decisão de ser vegetariano(a).
Em relação à proteína, é interessante notar a recomendação que o Ministério da Saúde (que não tem qualquer intenção de promover o respeito aos animais não-humanos) traz em seu Guia Alimentar para a População Brasileira: “Coma feijão com arroz todos os dias ou, pelo menos, 5 vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas e bom para a saúde.”. É isso mesmo, os alimentos de origem vegetal contêm todos nossos aminoácidos essenciais (aqueles que o organismo humano não consegue fabricar) em quantidade adequada. A frase “Vegetarianos têm deficiência de proteína” não passa de uma lenda urbana, uma das histórias mais mal contadas de todos os tempos. E claro, não há por que ficar só no arroz-feijão. Cereais (arroz, milho, aveia, trigo, etc.) e leguminosas no geral (ervilha, feijão, lentilha, soja, amendoim etc.) são ótimas fontes protéicas; nozes e sementes também.
O cálcio pode ser obtido de verduras verde-escuras, nozes e sementes. Apenas a título de ilustração: enquanto a ricota apresenta 181 mg de cálcio por 100 quilocalorias, o brócolis cozido tem 204 mg Ca / 100 kcal (cálculos feitos com base na Tabela Brasileira de Composição de Alimentos, 2.a edição, 2006). Isso sem contar que a biodisponibilidade (porção do cálcio que deverá ser efetivamente absorvida pelo organismo) do primeiro é de 32%, enquanto a do segundo é de 61%.(4) É válido ainda lembrar que nossa saúde óssea não depende apenas do cálcio, mas também de atividade física regular, exposição adequada ao sol para absorção de vitamina D, ingestão de proteínas em nível moderado (como é usual no vegetarianismo), e outros nutrientes que vegetarianos(as) costumam ingerir mais do que não-vegetarianos(as), como vitamina K (nas folhas), magnésio e potássio (nas frutas) e a vitamina C, que também favorece a absorção do cálcio.
Leguminosas são excelentes fontes de ferro. Enquanto um contra-filé grelhado, já sem a gordura aparente, apresenta 1,24 g de ferro por 100 quilocalorias, o feijão preto cozido apresenta 1,95 g Fe / 100 kcal (calculados com base nos dados da Tabela Brasileira de Composição de Alimentos). Não é verdade que o ferro dos vegetais é absorvido em menor intensidade que o ferro das carnes. O que acontece é que parte do ferro da carne (até 40%), o chamado ferro heme, pode apresentar maior taxa de absorção do que o ferro não-heme, que é o único presente nos vegetais (a taxa de absorção do primeiro vai de 10% a 40%, enquanto a do segundo vai de 2% a 20%). A vitamina C, que vegetarianos costumam ingerir em maior quantidade que não-vegetarianos, potencializa a absorção do ferro, contanto que ingerida na mesma refeição. A incidência de anemia ferropriva em vegetarianos é a mesma que em não-vegetarianos (Craig, W. J. “Iron Status of Vegetarians,” American Journal of Clinical Nutrition, 1994 (maio); 59: 1233s-1237s).
É bom lembrar que vegetarianos não são super-heróis, eles também podem contrair doenças se não se cuidarem. Mas, segundo resenha da literatura científica sobre vegetarianismo feita pela American Dietetic Association, “O vegetarianismo oferece diversos benefícios nutricionais, incluindo níveis mais baixos de gordura saturada e colesterol e níveis mais elevados de carboidratos, fibras, magnésio, potássio, folato e antioxidantes como vitaminas C, E e fitoquímicos. Vegetarianos apresentam menor índice de massa corpórea que não-vegetarianos, menor índice de mortalidade por doenças cardíacas, menor nível de colesterol, menor pressão sangüínea, menores índices de hipertensão, diabetes do tipo 2, e cânceres de cólon e de próstata.”.
Além do vegetarianismo, outra coisa comprovadamente boa para a saúde do coração é a ingestão de gorduras do tipo ômega-3, em especial as chamadas DHA e EPA. Vegetarianos(as) contam com diversas boas fontes de ômega-3: algas (a fonte que também é dos peixes), linhaça (a mais concentrada de todas as fontes), nozes e óleo de canola, por exemplo. Com exceção das algas, que contém DHA, as outras contém um outro tipo de ômega-3, o ALA. Nosso organismo transforma ALA em DHA e EPA. Como as gorduras ômega-6 atrapalham o processo de transformação do ALA em DHA e EPA, e também porque estudos clínicos mostram que a proporção ômega-6:ômega-3 está negativamente correlacionada com a saúde cardiovascular, a recomendação médica é priorizarmos fontes de ômega-3 com menor proporção ômega-6:ômega-3, de preferência de até 4:1. Ou seja, se possível, use óleo de canola (proporção 2:1) ao invés dos óleos de soja (7:1) e de milho (46:1). Mas se você quiser simplificar, pelo menos guarde isto: uma colher de sopa de semente de linhaça (batida na vitamina, por exemplo), ou uma colher de chá de óleo de linhaça (proporção 0,25:1, a melhor de todas) já supre a recomendação diária de ômega-3.
A vitamina B12 é importante na manutenção do sistema nervoso. Ela é o único nutriente que não pode ser obtido diretamente na alimentação vegetariana, e deve ser suplementada (normalmente basta uma única injeção anual, intramuscular e indolor, mas há quem prefira suplementação oral diária ou semanal). Antes de concluir que o vegetarianismo não é uma dieta completa, lembre que mesmo quem não é vegetariano pode precisar fazer uso de um ou outro suplemento nutricional. Por exemplo, se o iodo não fosse acrescentado ao sal, também haveria uma recomendação de suplementação do iodo. Quando existirem mais vegetarianos no Brasil, talvez possamos fazer alguma pressão para que essa vitamina seja acrescida à farinha de trigo, assim como o ferro e o ácido fólico já o são. Aliás, o Institute of Medicine, ONG que aconselha o povo e governo estadunidenses em questões da área de saúde, recomenda a suplementação de B12 não só para vegetarianos(as), mas também para qualquer um a partir dos cinqüenta anos de idade. Vegetarianos(as) começam a seguir essa recomendação médica algumas décadas antes, só isso. É bom notar que a vitamina B12 presente em suplementos alimentares não é de origem animal, já que não são os animais que fabricam essa vitamina, mas sim as bactérias. Os animais herbívoros não-humanos não têm nenhum problema com essa vitamina porque, além de suas especificidades fisiológicas, não têm as mesmas preocupações de higiene que nós temos. Eles podem ingerir B12 de folhas contaminadas com fezes, por exemplo – algo que nós não queremos fazer.
Tornando-me vegano(a)
Para se tornar vegano(a), você não precisa virar um(a) especialista em nutrição, não precisa ser rico(a) nem pertencer à classe média, não precisa gastar horas do seu dia lendo rótulos, não precisa comer em lugares especiais nem comer comida especial, não precisa cheirar mal ou deixar de escovar os dentes, não precisa se desligar da sua igreja... O único requisito que você precisa preencher é ser uma pessoa que acha essencial respeitar às outras e a si mesmo. E se você chegou até aqui, não há dúvida de que esse é exatamente o seu caso.
A fase de adaptação ao vegetarianismo (a dieta do(a) vegano(a), a que exclui todo e qualquer produto oriundo da escravidão, como mel, laticínios, ovos e carnes) é curta e indolor. Provavelmente após duas semanas, seu corpo já estará bem acostumado. Então se há um momento ideal para começar, esse momento é agora.
Só lembre que o vegetarianismo é uma dieta, e não um regime. É algo que vai acompanhá-lo(a) para sempre (ou ao menos enquanto você for ser essa pessoa consciente e respeitosa que é hoje, e normalmente isso não muda). Então coma bem, nada de ficar só na saladinha. E diversifique! Uma alimentação que respeita os animais conta com uma variedade enorme de cereais, feijões, verduras, castanhas, legumes e frutas, disponíveis na maioria dos restaurantes por quilo brasileiros. Você pode dar uma olhada em uma pitada de nutrição se quiser algumas informações gerais sobre nutrição vegetariana. Depois de algum tempo, você vai acabar notando que não só o seu corpo mas também o seu bolso agradece.
Quanto a seus antigos artefatos de couro e outros tipos de pele, lã ou seda, você pode substituí-los por produtos sintéticos, e talvez os queira dar para alguém sem condição financeira mínima de comprar suas próprias coisas.
Quanto aos produtos de higiene e cuidados pessoais, é só procurar seu próximo sabonete, xampu, pasta de dente, loção, creme ou batom de empresas que não aparecem na lista de empresas sádicas (aguarde), e sem ingredientes produzidos à base da escravidão (veja decifrando rótulos - aguarde). Dá, sim, um pouquinho de trabalho no início. Mas felizmente esse não é o tipo de consumo que temos que fazer todo dia, e uma vez que identificamos os produtos e as respectivas marcas que mais nos agradam, a pesquisa já está feita para sempre (ou até que a empresa mude a fórmula).
A questão do uso de animais para entretenimento é bastante simples. Basta não comprar (tenha você feito isso no passado ou não) animais “de estimação” (sejam cães, gatos, hamsters, peixes, pássaros ou o que quer que seja), não ir a zoológicos, aquários, circos que usam animais, rodeios, vaquejadas, denunciar rinhas e qualquer uso de animais para fins de entretenimento que já seja ilegal em sua cidade. Se você mora com um animal não-humano, quando precisar comprar produtos para ele, dê preferência a uma pet shop que não movimente dinheiro sujo (do ponto de vista moral), isto é, uma pet shop que não venda animais. Se o animal que mora com você é um cão, é interessante notar que já existe uma marca de ração vegetariana balanceada para cães no Brasil, veja aqui.
Caso você tenha espaço e tempo na sua vida para cuidar de um animal não-humano, é fácil adotar um (infelizmente, há muitos cães e gatos nas ruas de qualquer grande cidade brasileira). Estes ou foram abandonados ou descendem de um animal que foi abandonado (que por sua vez descende de um escravo num criatório comercial). Passados muitos séculos de domesticação, esses animais se tornaram extremamente dependentes de nós. A castração é uma medida necessária para rompermos com esse ciclo de escravidão e dependência.
Feito isso, você já pode e deve se considerar um(a) respeitador(a) de animais, um(a) vegano(a)! Há alguns lugares na internet em que você pode encontrar veganos e veganas mais experientes que podem te ajudar pessoalmente, trocando experiências, idéias, informações e dicas.Veja na nossa seção de links (aguarde).
Pode a ciência ser ética?
Sim! Geralmente os(as) cientistas e professores(as) não se preocupam com a não-utilização dos animais em pesquisas e no ensino, portanto desenvolvem metodologias e didáticas que requerem o uso de animais. Muitas vezes somos levados(as) a crer que a única metodologia condizente com o avanço das pesquisas e com o entendimento dos organismos seja aquela que utiliza animais. Porém, se o(a) cientista e professor(a) tiver a preocupação inicial de desenvolver um método em que animais não são utilizados isso é perfeitamente possível. Só é preciso uma preocupação prévia, estudo e criatividade.
Nenhum vegano e vegana é contra o estudo, a prática e os avanços científicos. O que somos contra e não aceitamos é a falta de ética na ciência.
Além disso, os resultados obtidos de uma espécie não podem ser extrapolados para outras espécies (dados obtidos de ratos não podem ser aplicados a seres humanos). Cada organismo responde de uma maneira diferente a determinado estímulo o que torna a extrapolação de dados entre diferentes espécies um grande risco. Esta extrapolação já trouxe diversos problemas para nós, humanos. Este é o caso do medicamento da talidomida, que foi amplamente testado em animais. Constatado que não causava problemas nos mesmos, foi liberado para consumo humano e recomendado principalmente para mulheres gestantes para a diminuição de enjôos. O problema é que este medicamento nunca poderia ter sido liberada para mulheres gestantes pois possui efeitos teratogênicos, ou seja, causa diversas anomalias e malformações no feto. Centenas de bebês nasceram com problemas devido a este triste fato.
Pesquisas
Atualmente consideramos anti-ético induzir uma doença em seres humanos para então buscar a cura. Tecnicamente isso também não é justificável, pois uma pessoa induzida a um estado de doença pode não desenvolver a doença da mesma forma que uma pessoa que a desenvolveu de maneira natural. No entanto, parece correto que a ciência se ocupe de tentar buscar a cura para seres humanos já doentes, desenganados por outros tratamentos. É natural que essas pessoas aceitem participar de pesquisas, isso é de seu interesse. Da mesma forma, centros de pesquisa que tenham interesse no estudo de determinada doença podem oferecer tratamento veterinário gratuito a tutores de animais desenganados por doenças. Dessa forma, seguindo um rígido protocolo de pesquisa, o paciente ou seu tutor legal podem consentir participar da pesquisa, desde que essa vise sua cura.
Outras formas de pesquisas éticas são:
- A utilização de células e tecidos cultivados em laboratório (testes in vitro) para pesquisas toxicológicas e investigações de natureza bioquímica;
- Utilização de cadáveres de animais mortos naturalmente para o estudo e pesquisa da anatomia, técnicas cirúrgicas, etc. Estes cadáveres eticamente obtidos podem ser plastinados para utilização em disciplinas de anatomia ou podem ser preservados em uma solução especial que mantém os tecidos secos, maleáveis e com as características de um cadáver fresco, podendo o mesmo cadáver ser utilizado ano após ano.
Ensino
Os alunos e alunas podem aprender através de modelos e simuladores computadorizados, realidade virtual, observação em campo e até mesmo a auto-experimentação. Existem pesquisas científicas comprovando que estes e estas estudantes que aprendem através de métodos éticos absorvem o conteúdo de forma similar ou superior aos que utilizaram animais experimentalmente. Isso acontece porque o animal em sala de aula é um fator de distração para os(as) estudantes. O(a) estudante deixa de se concentrar nos objetivos da disciplina e se desvia para outros fatores como se é correto utilizar aquele animal, se o animal está sofrendo, se ele irá acordar da anestesia, se ele irá morrer, etc. Outro exemplo são as caixas de invertebrados nos cursos de Ciências Biológicas. Os alunos e alunas podem pegar também insetos e outros animais que morreram naturalmente, é só ficarem de olho no chão!
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